JORGE FONSECA

Jorge Luiz Fonseca produz as primeiras obras no início dos anos 1990. Também trabalha como maquinista na Rede Ferroviária de Conselheiro Lafaiete, profissão que herdou do pai. É fortemente influenciado pela cultura popular, religiosidade, folclore e pelos processos artesanais e construtivos que adquiriu trabalhando como carpinteiro. Sua obra carrega forte carga simbólica, que em alguns casos se aproximam de Arthur Bispo do Rosario e Leonilson. Seus bordados, colagens, ornamentos e peças, extremamente coloridos, remetem a sua infância no interior de Minas e ao presente, em que o artesanal, sua pesquisa e originalidade se juntam para revelar um artista integrado com as questões artísticas da contemporaneidade. Atua também como designer de moda e de móveis, arte-educador, diretor de criação e produção de grupos de artesãos, dirigente de organização não governamental e idealizador e coordenador de projetos sociais. Em 2009, recebe da Fundação Pollock-Krasner, de Nova York, uma bolsa de estímulo à produção, por mérito e conjunto da obra. Atualmente, é professor convidado do Departamento de Artes da Universidade Federal de Juiz de Fora.

Críticas

“A história da arte é também uma história da procura. Aliás, toda redução histórica é, a princípio, uma procura. Como ofício, a arte buscou, ao longo dos tempos, as excelências harmônica e expressiva, a medida e o gesto. Como ciência, buscou o Belo, a Natureza e o Deus. Com a imanência do belo, a humanização da natureza e a morte de deus, a arte que sobreveio à crise moderna do saber ocidental caracterizou-se pela busca da arte mesma. A importância de uma função ou de uma finalidade da coisa artística para uma cultura ou uma civilização foi radicalmente abandonada, ou esgotada, no decorrer do século XX, que se ocupou quase inteiramente, sobretudo na segunda metade, de uma arte em busca de um sentido ou de um conceito possível a partir dela mesma. O trabalho do maquinista Jorge Fonseca também trilha esta procura, mas, de certo modo, tenta reconduzi-la para fora desta tautologia. Quer dizer, tenta retomar um caminho, esquivo, em que a produção do artista deixe de operar uma redução fenomenológica sobre si mesma, reconquistando sua coerência com a experiência coletiva e seu papel no desenvolvimento humano. Cidadão do interior de Minas Gerais, sua personalidade é completamente perpassada pela moral e pela religiosidade desta região, portanto pela dimensão espiritual que as caracteriza e as opõe à materialidade metropolitana; assim como seu olhar pelo folclore e pelo repertório estético popular, portanto pela dimensão tradicional e comunicativa que os caracteriza e os opõe ao atual distanciamento entre a realidade da arte e a realidade do conceito de arte (conforme o preocupante diagnóstico de Argan). Sem a dúvida que marcou a produção artística contemporânea, sua linguagem plástica é tão exata e segura quanto àquela de seus maiores referenciais. De um lado, a relíquia afirmativa de Bispo do Rosario lhe garante a dignidade expressiva dos panejamentos e dos bordados, tanto quanto das bandeiras do Divino e dos chapéus de Reizado, da educação cristã e das costuras de sua tia. De outro, a solidão aventurosa de Leonilson lhe assegura a atualidade artística que subsiste na historiografia

pessoal, na opção moral humanística e, como não, no próprio Bispo, tanto quanto na feminilidade e na caligrafia, nas citações bíblicas e nas entregas amorosas. No entanto, se Bispo buscava Deus e Leonilson o indivíduo, pode-se dizer que Jorge busca uma reconciliação entre ambos. Seu projeto tem a forma de um grande aviamento, que visa religar os pedaços retalhados da colcha humana. Amiúde, Jorge quer costurar novamente a fé com a saúde, o amor com a felicidade, o futuro com a sorte, o desejo com a predição, o sonho com a viagem, o parente com a família, o homem com a vida. O fato de manter-se produzindo a partir desta ‘idéia’ sobre como o mundo deve ser, que condena sua energia produtiva a um processo inabalável de busca, empresta ao seu trabalho um compromisso quase religioso, ou mesmo filosófico. Sua tessitura quer sempre restituir algo de fundamento ético desfeito, cujo caráter é inegavelmente redentor, conseqüentemente, ideal romântico. Neste sentido, o cuidado de não reduzir sua linguagem a uma figuração moralista enquanto, ao mesmo tempo, a lança no corpo social como manifesto poético, faz com que Jorge busque, repetidamente, superar os suportes, as retóricas e os limites museográficos com que, paradoxalmente, conta. O desafio que se lhe impõe é sempre o de encontrar, dentro do laboratório técnico das linguagens contemporâneas, caminhos possíveis de expressão para seu espírito romântico”.

Waldir Barreto

FONSECA, Jorge Luiz. Procura-se Márcio Antonio Fonseca. Rio de Janeiro : Galeria Anna Maria Niemeyer, 2001.

Acervos

Centro Cultural Cândido Mendes – Rio de Janeiro RJ

Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima – Campos RJ

Museu de Arte Contemporânea do Paraná – Curitiba PR

Exposições Individuais

1996 – Belo Horizonte MG – Individual, no Espaço Cultural Café São Jorge

1996 – Belo Horizonte MG – Individual, na Galeria de Arte da Cemig

1999 – Rio de Janeiro RJ – Individual, no Projeto Macunaíma/Funarte

1999 – Rio de Janeiro RJ – Individual, no CCCM

2000 – Goiânia GO – Individual, na Galeria de Arte Frei Confaloni

2000 – Belo Horizonte MG – Individual, na Galeria Celma Albuquerque

2001 – Rio de Janeiro RJ – Procura-se Márcio Antônio da Fonseca, na Galeria Anna Maria Niemeyer

2003 – Ouro Preto MG – Individual, no Museu da Inconfidência

2004 – Rio de Janeiro RJ – Me Alugo pra Sonhar, na Galeria Anna Maria Niemeyer

2004 – Rio de Janeiro RJ – Jorge Fonseca: bordados e objetos, na Galeria Anna Maria Niemeyer

2004 – Belo Horizonte MG – Individual, na Quadrum Galeria

2007 – Rio de Janeiro RJ – Individual, na Galeria Anna Maria Niemeyer

2008 – Belo Horizonte MG – Individual, na Galeria de Arte da Cemig

Exposições Coletivas

1996 – Campos RJ – Salão de Arte Contemporânea de Campos – 1º prêmio

1996 – Curitiba PR – 53º Salão Paranaense, no MAC/PR – prêmio aquisição

1997 – Ribeirão Preto SP – 22º Salão de Arte Contemporânea de Ribeirão Preto

1998 – Rio de Janeiro RJ – Projeto Macunaíma, na Funarte

1999 – São Paulo SP – Cotidiano/Arte. A Técnica, no Itaú Cultural

2000 – Belo Horizonte MG – Alex Flemming e Jorge Fonseca, na Celma Albuquerque Galeria de Arte

2000 – Belo Horizonte MG – Bravas Gentes Brasileiras, no Palácio das Artes

2000 – Juiz de Fora MG – Tendências Internacionais, no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas

2000 – São Paulo SP – 500 Anos de Design, na Pinacoteca do Estado

2000 – São Paulo SP – Arte e Erotismo, na Galeria Nara Roesler

2001 – Juiz de Fora MG – Brasil do Novo Milênio, no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas

2002 – Belo Horizonte MG – Rumos Itaú Cultural Artes Visuais. Rumos da Nova Arte Contemporânea Brasileira, na Fundação Clóvis Salgado. Palácio das Artes

2002 – Fortaleza CE – Rumos Itaú Cultural Artes Visuais. Arte: sistema e redes, no Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará

2002 – Goiânia GO – 2º Salão Nacional de Arte de Goiás, no Flamboyant Shopping Center

2002 – Niterói RJ – A Recente Coleção do MAC, no MAC/Niterói

2002 – Rio de Janeiro RJ – A Imagem do Som do Rock Pop Brasil, no Paço Imperial

2002 – São Paulo SP – Rumos Itaú Cultural Artes Visuais. Vertentes da Produção Contemporânea, no Itaú Cultural

2003 – Juiz de Fora MG – 7 Pecados, no Hiato – Ambiente de Arte

2003 – Petrópolis RJ – Via BR 040 – longo trecho em aclive, no Museu Imperial

2003 – Rio de Janeiro RJ – 11ª Universidarte, na Universidade Estácio de Sá

2004 – Niterói RJ – Imaginário Periférico, na Galeria do Poste

2004 – Rio de Janeiro RJ – Tudo é Brasil, no Paço Imperial

2005 – Niterói RJ – 7 Pecados, no Centro Cultural Paschoal Carlos Magno

2005 – Rio de Janeiro RJ – Arte Brasileira Hoje, no Museu de Arte Moderna

2007 – Lituânia – 6º Bienal de Arte de Contemporânea de Kaunas

2008 – Niterói RJ – Sonhos, Desejos e Figurações, no Museu de Arte Contemporânea

2010 – Rio de Janeiro RJ – Coleção Gilberto Chateubriand/ aquisições recentes, no Museu de Arte Moderna

2010 – Argentina – Feira Internacional de Arte de Buenos Aires

2010 – Rio de Janeiro RJ – Mistérios Gozosos, na Casa da Graphos